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ENTIDADES ORGANIZAM CAMPANHA PARA ADIAR CONSIGNADO DO AUXÍLIO BRASIL

Entidades organizam campanha para adiar consignado do Auxílio BrasilFoto: Marcos Santos/USP Imagens

O empréstimo consignado para beneficiários do Auxílio Brasil não está agradando as entidades de defesa do consumidor. Por isso, elas organizaram uma campanha que iniciou nesta semana  para pedir estudos e manifestações técnicas de especialistas sobre a medida.

A nova linha de crédito foi regulamentada pelo presidente Jair Bolsonaro em decreto. Segundo a lei, os beneficiários do programa de transferência de renda poderão comprometer até 40% da renda com o empréstimo.

O movimento foi batizado como "Nota em Defesa da Integridade Econômica da População Vulnerável" e foi organizado pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), pela Defensoria Pública do Estado de São Paulo, pelo Programa de Apoio ao Endividado da Faculdade de Direito de Ribeirão Preto e pelo Acredito.

"Solicitamos o adiamento do início da comercialização do crédito para o Auxílio Brasil e outros programas de transferência de renda, para elaboração de estudos e manifestação técnica dos especialistas e da sociedade civil, como necessário para elaboração de toda política pública", diz trecho da carta.

O documento pode ser assinado por entidades e pessoas físicas clicando aqui. 

Segundo a entidade, a ideia é reunir o maior número possível de adesões para definir a melhor estratégia e levar para o Ministério da Cidadania. No entanto, não descartam medidas judiciais.

Juros é uma das preocupações 

Em nota, o Idec diz que as taxas de juros praticadas pelo mercado, que podem chegar a percentuais de 79% a 98% ao ano, estão entre as principais preocupações.

"O beneficiário do Auxílio Brasil que solicitar R$ 2.000 em crédito terminará com uma dívida de R$ 4.000, sendo praticamente metade dela convertida em lucro para os bancos", diz Julia Catão Dias, advogada do programa de serviços financeiros do instituto.

Para a professora da Faculdade de Direito de Ribeirão Preto e responsável pelo Programa de Apoio ao Endividado, Maria Paula Bertran, essa é uma má política pública. 

Ela diz que a responsabilidade pelo crédito está sendo deixada apenas nas mãos dos consumidores vulneráveis, mas o governo e os bancos também deveriam levar em consideração a qualidade de vida dos beneficiários.

Ela ainda alerta de que grandes crises macroeconômicas começam com o superendividamento da população e que essa deve ser uma preocupação que não pode ser ignorada.

Risco de endividamento

A Associação Brasileira de Educadores Financeiros (Abefin) também tem ressalvas quanto ao consignado. 

"Não é que o crédito seja ruim. O problema é comprometer um ganho que já é baixo com endividamento. São famílias que estão com prioridades de sobrevivência e, nesse caso, serão inseridas em um contexto complexo de consumo", diz o presidente da associação e da Dsop Educação Financeira, Reinaldo Domingos.

Em nota, a  Federação Brasileira de Bancos (Febraban) afirma que o consignado a programas sociais permite a disposição de recursos para esse público de "forma rápida e mais barata". A entidade diz ainda que cada instituição financeira pode estabelecer os critérios para a concessão do crédito.

Além disso, afirma que "a procura por uma operação de crédito deve ser avaliada cautelosamente pelos bancos e por parte do beneficiário, a fim de prevenir o superendividamento". 

Até agora, dentre os maiores bancos, apenas a Caixa Econômica Federal se manifestou sobre oferecer o empréstimo. Itaú e Bradesco já descartaram e o Banco do Brasil avalia a oferta.

Procurado pela reportagem da Folha, o Ministério da Cidadania não se manifestou.

Fonte: com informações da Folha de S.Paulo