TROPA DE CHOQUE BOLSONARISTA USA POLÍCIA DO SENADO PARA INTIMIDAR COLUNISTA DA FOLHA
Principais representantes da defesa do governo do presidente Jair Bolsonaro na CPI da Covid, os senadores Eduardo Girão (Podemos-CE) e Luiz Carlos Heinze (PP-RS) acionaram a Polícia do Senado para intimidar o sociólogo Celso Rocha de Barros, autor de um artigo na Folha de S.Paulo que deixou os parlamentares irritados.
O senador Luiz Carlos Heinze (PP-RS)
Jefferson Rudy/Agência Senado
A Polícia do Senado abriu investigação a pedido de ambos. Alegam serem vítimas de calúnia e injúria. No artigo "'Consultório do Crime' tenta salvar Bolsonaro na CPI da Covid", Celso de Barros afirma que o presidente é defendido por senadores que buscam "tumultuar a investigação mentindo sobre medicina".
Nesta terça-feira (25/5), Celso de Barros informou à Polícia do Senado que não vai participar da videoconferência marcada pelos investigadores. "Não é atribuição da Polícia do Senado investigar supostos delitos contra a honra de senadores da República", afirmou o sociólogo, em petição assinada pelos advogados Luís Francisco Carvalho Filho e Phillipe Alves do Nascimento.
O colunista da Folha declarou, na mesma resposta, que os senadores são integrantes da bancada bolsonarista, "empenhada em instituir no Brasil um regime de arbítrio e de intimidação, conspirando permanentemente contra a liberdade de expressão e de imprensa".
Os senadores integram a tropa de choque de Bolsonaro dentro da CPI e defendem o uso de medicamentos sem eficácia contra a Covid-19, como a hidroxicloroquina e a ivermectina.
Durante as primeiras reuniões da CPI, Heinze e Girão mentiram ao citar estudos científicos inconclusivos, erraram dados ou omitiram informações sobre trabalhos que mostrariam benefícios do tratamento precoce.
O senador pelo Rio Grande do Sul registrou boletim de ocorrência contra Celso de Barros no último dia 10, data em que o artigo foi publicado. Disse aos investigadores que o colunista tentou criminalizar a "defesa legítima" que faz na CPI, "escudado em manifestações de renomados médicos e cientistas". Girão procurou a Polícia do Senado no dia seguinte.
O sociólogo também faz alusão no artigo ao "Escritório do Crime", grupo de assassinos de aluguel que atua no Rio de Janeiro, do qual faria parte o ex-policial militar Adriano da Nóbrega, morto em fevereiro de 2020.
O presidente Bolsonaro disse, dias depois da morte de Adriano, que o ex-policial era um herói na época em que foi homenageado pelo senador Flavio Bolsonaro.
Celso de Barros afirmou à Folha que os senadores tentam intimidá-lo. Ele disse ainda que o assédio judicial é uma rotina na "era Bolsonaro", assim como em governos que inspiram o bolsonarismo.
"Para uma turma que se dizia contra o politicamente correto, os bolsonaristas são sensíveis demais. Os senadores não querem ser responsabilizados diante da opinião pública por suas posições na CPI. O que está em discussão não é brincadeira. Quase meio milhão de brasileiros morreram", disse o sociólogo.