ESPECIALISTAS AFIRMAM QUE TRABALHAR MAIS QUE 6H POR DIA NÃO O FAZ MAIS PRODUTIVO; ENTENDA
Pexels
Especialistas afirmam que é preciso de quatro horas para terminar todas as tarefas do dia de trabalho, mas ainda restam quatro horas no expediente do formato atual, de 8 horas, que os profissionais precisam estar online.
A neurocientista e fundadora da consultoria Nêmesis, Thais Gameiro, diz que, em geral, ou as pessoas passam o resto do tempo se sentindo mal por não estar produzindo ou passam o dia procrastinando para finalizar as tarefas e acaba tendo que fazer até horas extras.
No final das contas, o profissional está esgotado, não produz o suficiente e também não descansa.
A especialista explica que não importa o número de horas que fique na frente do computador tentando terminar uma planilha, por exemplo, existe um limite para o nosso cérebro e, se não há descanso, nossa capacidade produtiva cai e a frustração toma conta.
“Quando estamos concentrados, a gente usa uma parte do cérebro chamada pré-frontal. É nela que conseguimos manter nossa atenção a detalhes e permite que a gente tome decisões”, explica.
Esse é um processo que demanda muita energia do nosso corpo, diz ela, então quanto mais pesado é o nosso dia em relação a essas habilidades, maior o cansaço e o esgotamento.
“A gente até consegue se forçar a continuar trabalhando, mas no dia seguinte você vai perceber que enviou um e-mail errado, esqueceu alguma data ou não deu a atenção devida a algum detalhe importante.”
A capacidade produtiva envolve muitas variáveis, de acordo com a neurocientista. O bem-estar financeiro, por exemplo, está relacionado a um sinal de sobrevivência. É o salário que paga aluguel, alimenta e paga as contas. Assim, engajamento, propósito, alimentação e descanso também são pontos importantes de atenção.
Seis horas diárias de trabalho
Sabe quando você está travado em algum problema e não consegue encontrar nenhuma solução para ele? Chegou a hora da pausa para o cafezinho, recomenda Thaís.
Esse é um momento crucial que contribui para sua produtividade. Mas existe um número ideal de horas de trabalho por dia? Não há uma resposta exata, sentencia, mas não costuma passar de seis horas diárias para a maioria das pessoas.
“Quando estamos trabalhando focados, a gente está ativando uma rede que é chamada de TPN. Quando você está se distraindo, tomando sua água ou batendo um papo leve, você está ativando uma outra rede chamada DMN, responsável por ajudar a gente a ser mais criativo. O ócio é indispensável para a saúde. Sem descanso, a criatividade e, como consequência a inovação, são afetadas diretamente”, conclui a neurocientista.
Se a neurociência explica que a capacidade produtiva não condiz com as longas horas de trabalho, sem descanso, por que as pessoas continuam acreditando que “vestir a camisa” é trabalhar até tarde ou responder e-mails enviados às 23h do domingo?
O psicólogo especializado em avaliação de desempenho, Wanderley Cintra, explica que com a hiperconectividade, a linha que separava o tempo de trabalho e o descanso foi diluída, aumentando também os níveis de estresse entre os profissionais. O trabalho é um fator importante na formação da nossa identidade.
Quanto mais você está envolvido, sem conseguir dividir o que é pessoal e o que é profissional, diz ele, maior os desgastes físico e emocional.
“Por trás daquele elogio ‘você se dedica muito’ vem a expectativa de crescer. Ou seja, quanto mais eu estou entregando em menos tempo, mais rápido eu vou ser alçado a um novo cargo, mas isso nem sempre acontece”, diz Wanderley.
Assim, o desgaste mental está relacionado a coisas muito simples que quase todo mundo sente quando trabalha, seja aquela pressão constante de fazer muitas coisas ao mesmo tempo ou estar sempre disponível para qualquer mensagem no celular, com altas expectativas e dedicação.
Jornadas são maiores com a hiperconectividade
A professora do curso de Ciências Sociais da Universidade Federal do Acre (UFAC), Luci Praun, explica que a lógica de oito horas de trabalho, oito horas de lazer e oito horas de descanso, comum para o século 19, foi desmontada e deu lugar a flexibilidade na jornada de trabalho, para o bem e para o mal.
“Você tem que ler as centenas de grupos de WhatsApp das empresas. Eles funcionam no fim de semana, na madrugada, não tem horário. Todo mundo quer resolver tudo muito rápido, então é como se fosse uma engrenagem. Eu preciso dar conta da minha tarefa, então vou mandar uma mensagem no Whatsapp avisando que enviei um e-mail, por exemplo”, afirma.
Thaís Gameiro aponta que, nós não podemos, no entanto, considerar que trabalhamos oito horas por dia e 40 horas por semana. A hiperconectividade, diz ela, faz com que nossa jornada seja muito maior, e acabamos ficando 24 horas por dia e sete dias por semana preocupados com o que está acontecendo no trabalho, afetando nosso bem-estar e comprometendo a qualidade do trabalho.
“Para você conseguir fazer bem o seu trabalho, você precisa ter foco e isso exige muito da nossa fisiologia. Qualquer distração nos atrapalha, ninguém consegue fazer tudo ao mesmo tempo.” Com essa hiperconectividade, há uma relação conflitante e extenuante, conclui a neurocientista, entre o quanto nosso cérebro aguenta trabalhar com qualidade (6h), o quanto somos obrigados a trabalhar por contrato (8h) e o tanto a que precisamos prestar atenção pelo celular (o dia inteiro).
Para isso, reconhecer os limites do seu corpo é importante para não ir além do saudável, sugere Wanderley. "Também saber dizer não para o que não faz parte do seu escopo de trabalho ou você simplesmente você não sabe fazer pode te ajudar a organizar as demandas, sem exagerar."
Fonte: com informações do Estadão