É NORMAL RECUSAR UMA PROMOÇÃO NO TRABALHO? SAIBA QUANDO DEVE DIZER NÃO
Especialista explica situações em que não é saudável aceitar uma promoção no emprego e como abordar isso com o gestor.
A promoção é algo naturalmente almejado pelos profissionais quando já estão há um tempo atuando na mesma empresa. Uma pesquisa realizada pela 7 Waves mostrou que, na lista de desejo dos brasileiros, 54,2% tinham como principal objetivo, em 2021, serem promovidos.
“Às vezes a oportunidade está à nossa frente e simplesmente estamos tão presos à rotina que não vemos o que podemos fazer de melhor para galgar um novo cargo e /ou mudar de função dentro da própria empresa. Conversar com o gestor e entender o momento que a empresa está pode abrir várias portas para o colaborador”, explica o especialista em carreiras da Godiva Propaganda, Leandro Rampazzo.
No entanto, apesar de não parecer tão comum, conseguir uma promoção ou alcançar um cargo de liderança é uma realização que nem todos os profissionais buscam, seja pelo momento que vivem – por não se sentirem ainda prontos para liderar um time ou para assumir mais responsabilidades – ou por não acreditarem que seu perfil se encaixa com a oportunidade oferecida de crescimento.
Este lado da moeda, que dificilmente você verá tão exposto no LinkedIn ou em qualquer rede social com relato de profissionais, ainda traz consigo alguns estigmas.
Promoção pode ser recusada, sim!
Para a psicóloga e especialista em Gestão de Pessoas, Bárbara Lima, é preciso ter muito cuidado com o tabu que se criou por trás do não aceite a eventuais ofertas de promoção.
Ela explica que a resposta negativa não representa acomodação ou falta de ambição, mas um contexto que pode ser de insegurança, falta de preparação ou simplesmente busca por objetivos diferentes daquele proposto.
“Se criou um estigma perigoso que é dizer que quem recusa uma promoção fecha as portas para o mercado de trabalho, fica ‘queimado’, se torna mal visto. Vejo muitos especialistas defenderem tal visão e isso me preocupa muito. A recusa pode ser por conta de questões pessoais, por falta de treinamento, por ser uma oportunidade que se distancia das ambições atuais do colaborador, etc.”, salienta a psicóloga, que deixa claro que é preciso compreensão para entender por que, afinal, a chance de subir de cargo está sendo passada.
“É muito importante que haja comunicação entre gestão e empregado para que o motivo seja compreendido. Se eu sinto que não tenho as skills necessárias, a empresa pode solucionar investindo em treinamento e preparação. Se a vaga me desinteressa, a organização pode buscar entender quais são as minhas metas. Caso o problema seja algum momento pessoal ou até profissional de turbulência, a empresa pode tentar, de algum modo, oferecer suporte.”
Como dizer não para uma promoção
Bárbara explica que a resposta negativa à oferta de promoção deve ser bem justificada. Segundo ela, se o problema estiver relacionado à insegurança, pode ser válido, em vez de recusar de cara, pedir um tempo para pensar e, neste período, buscar entender melhor quais serão as responsabilidades e como isso pode afetar a rotina profissional e pessoal.
Caso o colaborador não esteja se sentindo pronto, é importante ser transparente com o gestor e apontar quais são os pontos que ele sente que não é capaz de atender.
“Em meio a isso, se for uma vaga que de fato o interessa, ele deve deixar claro que deseja solucionar os gaps. Vale sugerir ao gestor que a empresa invista no desenvolvimento de suas habilidades”, diz a psicóloga.
A especialista deixa claro, também, que há casos de profissionais que simplesmente estão felizes em seu cargo atual e não almejam mudar. Além disso, algumas vagas exigem algum tipo de formação específica, seja ela técnica ou universitária, o que pode comprometer o tempo do profissional fora do expediente. Quando for o cenário, ela recomenda que o colaborador deixe bem claro que sente pode contribuir mais à empresa fazendo o que faz.
“Nós criamos uma visão social de que todos devem ser ambiciosos no trabalho, mas não precisa nem deve ser assim. A vida não se resume ao trabalho. Você pode perfeitamente ter como foco outras questões. Se a sua condição profissional atual te deixa bem ou te possibilita concretizar metas pessoais e afins, não há porque criar a pressão de fazer mais e mais”, aponta.
Promoção fantasma
Falar em promoção, comumente, nos faz pensar em algo positivo, vantajoso, mas nem sempre é assim.
Há casos, especialmente em panoramas de crise, nos quais o aumento de salário é incompatível com o aumento de pressão e responsabilidades. Nestes momentos, ao invés de ser um ganho, a promoção se torna uma armadilha.
De acordo com levantamento feito pela Robert Half nos Estados Unidos, em 2018, quase 40% dos empregadores revelaram que a prática não é incomum. Ainda assim, 64% dos profissionais respondentes admitiram que topariam ser promovidos em tais condições – especialmente se acreditarem que o salário é vantajoso apesar dos excessos que a vaga pode trazer.
“Quando se fala sobre esse tipo de promoção, o quanto, de fato, os desafios estão claros ao empregado? Ele será apenas um ‘tapa-buraco’ para uma demanda extra ou, de fato, tal promoção pode ajudá-lo a crescer ainda mais na empresa? O dinheiro conta, mas quando a vaga for, para valer, uma cilada, o salário não garantirá que o trabalhador se sinta, com o tempo, igualmente engajado e produtivo como era no início. A falta de reconhecimento pode pesar e a alta demanda sem valorização pode levá-lo a um burnout. Promoções fantasma podem ser temporárias, para realmente cobrir um problema, mas podem ser permanentes”, ressalta Bárbara.
O lado da empresa
Segundo o advogado trabalhista Carlos Costa, um colaborador dizer não a uma promoção nem sempre é tão simples quanto deveria ser. O especialista jurídico comenta que, dependendo da necessidade da organização, ela não terá tempo para esperar o colaborador se decidir ou se especializar.
“Nós sabemos que o mercado de trabalho não é um mar de rosas. Em organizações que trabalham bem o seu ambiente e o seu planejamento, a recusa pode ser perfeitamente aceita e o profissional não terá qualquer prejuízo momentâneo ou futuro, podendo até, mais para frente, ter a oferta em mãos novamente. Outras, porém, podem partir até mesmo para demissão”, diz.
Costa traz à tona que muitos gestores encaram a recusa como insubordinação e, por tal, aplicam algum tipo de consequência ao empregado. Porém, existem alguns fatores que devem ser avaliados.
“Quando há uma contratação, qualquer eventual alteração nas condições de trabalho deve ser consentida e documentada. Ou seja, é necessário consentimento de ambas as partes. Você não chega em um assistente e diz: ‘amanhã você será analista’. Há uma conversa, uma oferta, uma combinação de condições. Quando casos assim são levados à Justiça, é normalmente aceito que haja a recusa. Afinal, a melhora de salário não é fator único ponderado. A nova carga de responsabilidade, a pressão estabelecida, questões pessoais e outras causas podem apresentar prejuízo ao colaborador”, finaliza.
Fonte: com informações de Bruno Piai / RH Pra Você