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OABRJ DEBATEU DEFESA DOS POVOS DE TERREIRO

Evento da Comissão de Direitos Humanos reuniu lideranças religiosas, acadêmicos e agentes da Justiça.

 


Realizado pela Comissão de Direitos Humanos e Assistência Judiciária (CDHAJ) da OABRJ, o evento “Defesa e direitos dos povos de terreiro” reuniu convidados no Plenário Carlos Maurício Martins Rodrigues, na sede da Seccional, na noite de sexta-feira, dia 25, para discutir os desafios enfrentados pelos representantes de religiões de matriz africana na sociedade brasileira. 

“Este é um evento de suma importância para que consigamos frear o ódio e o racismo vivido pelos afro-brasileiros e pelos povos originários”, afirmou a ialorixá Mãe Márcia D’Oxum, do terreiro Egbé Ilè Iyá Omidayê Àṣe Obalayó.
 

“Que terreiro e que candomblé poderemos deixar para as novas gerações? Como fazer com que os jovens não se desanimem e desistam da cultura e das tradições de seus ancestrais? Somos um povo, não somos apenas praticantes de uma religião e não podemos ser reduzidos a apenas isso. Há uma tentativa de corromper nossa tradição, implodindo os povos de terreiro por dentro, num novo processo de catequização. As leis para nos proteger já existem, mas precisamos fazer com que todos as conheçam para garantir nossa sobrevivência”. 


Além de Mãe Márcia, compuseram a mesa a ialorixá Flávia Regina de Omolu, do terreiro Ilê Axé Omin Agbara Oluayê; a socióloga Carolina Rocha, e o procurador do Ministério Público Federal Júlio Araújo. O evento foi comandado pela coordenadora do Grupo de Trabalho de Intolerância e Crimes de Ódio da CDHAJ da OABRJ, Sônia Ferreira. 

“Há um projeto que vem se desenvolvendo nas favelas brasileiras desde os anos 1960 que é o processo de ‘neopentescolização’ da periferia, mas estamos falando de algo que é muito maior do que a atuação de igrejas evangélicas, e que se reflete na política institucional e se reflete na ameaça ao patrimônio material e imaterial brasileiro”, afirmou Carolina Rocha.

“Quando falamos das religiões de matriz africana, falamos de algo muito maior que a religião. Falamos de um processo construtivo afro-indígena, de enorme variedade, e uma política de luta pela existência que precisa ser salvaguardada pelo Estado e protegida pela sociedade”. 

Representante do Ministério Público Federal, Júlio Araújo falou sobre a atuação da entidade no combate à intolerância religiosa e estratégias de defesa dos povos de terreiro.  
 

“O Ministério Público, a Defensoria e mesmo a própria OABRJ têm que assumir um papel de atuação, criando espaços para pautar discussões e manter a mobilização de forma permanente, não apenas após episódios de grande repercussão midiática”, afirmou o procurador federal Júlio Araújo.


“Precisamos nos organizar para fazer estes enfrentamentos até o final e colocarmos os dedos na ferida. Tivemos êxito em vários casos, sempre com grande mobilização, mas é importante olhar, por exemplo, para o campo trabalhista, já que muitas vezes membros das comunidades religiosas de matriz africana são rejeitados pelo mercado de trabalho em função de suas crenças. É preciso fazer um combate ao racismo que motiva a perseguição a terreiros e a membros das comunidades religiosas de matriz africana. Ao unir informações e casos podemos levar essas questões aos maiores palcos”. 

Em sua fala, Flávia Regina de Omolu condenou a perseguição aos terreiros e exortou membros das comunidades religiosas de matriz africana a unirem forças na defesa de sua cultura ancestral.  
 

“Parabenizo a OABRJ pela iniciativa de promover este debate”, afirmou a ialorixá. “Não poderia deixar de externar minha solidariedade à ialorixá Paula de Odé, que recentemente foi impedida de visitar um filho de santo em suas últimas horas de vida no hospital, em um episódio que nos causou imensa revolta. Nossa lógica é a do coletivo e não se estrutura a partir dos parâmetros da cultura branca, ocidental, excludente e egoísta. É por isso que acredito que ser de terreiro é ser forjado por formas diferentes de vida. Sou a continuidade de minha mãe e de mulheres que viveram e vivem esse racismo que demoniza, diminui, persegue e exclui o povo preto e seus saberes. Combinaram de nos matar, mas nós combinamos de não morrer”.


Realizado pela Comissão de Direitos Humanos e Assistência Judiciária (CDHAJ) da OABRJ, o evento “Defesa e direitos dos povos de terreiro” reuniu convidados no Plenário Carlos Maurício Martins Rodrigues, na sede da Seccional, na noite de sexta-feira, dia 25, para discutir os desafios enfrentados pelos representantes de religiões de matriz africana na sociedade brasileira. 

“Este é um evento de suma importância para que consigamos frear o ódio e o racismo vivido pelos afro-brasileiros e pelos povos originários”, afirmou a ialorixá Mãe Márcia D’Oxum, do terreiro Egbé Ilè Iyá Omidayê Àṣe Obalayó.
 

“Que terreiro e que candomblé poderemos deixar para as novas gerações? Como fazer com que os jovens não se desanimem e desistam da cultura e das tradições de seus ancestrais? Somos um povo, não somos apenas praticantes de uma religião e não podemos ser reduzidos a apenas isso. Há uma tentativa de corromper nossa tradição, implodindo os povos de terreiro por dentro, num novo processo de catequização. As leis para nos proteger já existem, mas precisamos fazer com que todos as conheçam para garantir nossa sobrevivência”. 


Além de Mãe Márcia, compuseram a mesa a ialorixá Flávia Regina de Omolu, do terreiro Ilê Axé Omin Agbara Oluayê; a socióloga Carolina Rocha, e o procurador do Ministério Público Federal Júlio Araújo. O evento foi comandado pela coordenadora do Grupo de Trabalho de Intolerância e Crimes de Ódio da CDHAJ da OABRJ, Sônia Ferreira. 

“Há um projeto que vem se desenvolvendo nas favelas brasileiras desde os anos 1960 que é o processo de ‘neopentescolização’ da periferia, mas estamos falando de algo que é muito maior do que a atuação de igrejas evangélicas, e que se reflete na política institucional e se reflete na ameaça ao patrimônio material e imaterial brasileiro”, afirmou Carolina Rocha.

“Quando falamos das religiões de matriz africana, falamos de algo muito maior que a religião. Falamos de um processo construtivo afro-indígena, de enorme variedade, e uma política de luta pela existência que precisa ser salvaguardada pelo Estado e protegida pela sociedade”. 

Representante do Ministério Público Federal, Júlio Araújo falou sobre a atuação da entidade no combate à intolerância religiosa e estratégias de defesa dos povos de terreiro.  
 

“O Ministério Público, a Defensoria e mesmo a própria OABRJ têm que assumir um papel de atuação, criando espaços para pautar discussões e manter a mobilização de forma permanente, não apenas após episódios de grande repercussão midiática”, afirmou o procurador federal Júlio Araújo.


“Precisamos nos organizar para fazer estes enfrentamentos até o final e colocarmos os dedos na ferida. Tivemos êxito em vários casos, sempre com grande mobilização, mas é importante olhar, por exemplo, para o campo trabalhista, já que muitas vezes membros das comunidades religiosas de matriz africana são rejeitados pelo mercado de trabalho em função de suas crenças. É preciso fazer um combate ao racismo que motiva a perseguição a terreiros e a membros das comunidades religiosas de matriz africana. Ao unir informações e casos podemos levar essas questões aos maiores palcos”. 

Em sua fala, Flávia Regina de Omolu condenou a perseguição aos terreiros e exortou membros das comunidades religiosas de matriz africana a unirem forças na defesa de sua cultura ancestral.  
 

“Parabenizo a OABRJ pela iniciativa de promover este debate”, afirmou a ialorixá. “Não poderia deixar de externar minha solidariedade à ialorixá Paula de Odé, que recentemente foi impedida de visitar um filho de santo em suas últimas horas de vida no hospital, em um episódio que nos causou imensa revolta. Nossa lógica é a do coletivo e não se estrutura a partir dos parâmetros da cultura branca, ocidental, excludente e egoísta. É por isso que acredito que ser de terreiro é ser forjado por formas diferentes de vida. Sou a continuidade de minha mãe e de mulheres que viveram e vivem esse racismo que demoniza, diminui, persegue e exclui o povo preto e seus saberes. Combinaram de nos matar, mas nós combinamos de não morrer”.