O NOVO PADRÃO CHINÊS DEIXA O MUNDO APREENSIVO
Neste artigo, o especialista comenta sobre o atual cenário chinês frente a economia.
Apesar dos efeitos negativos da política de “covid zero”, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), a China ainda deve responder por 22,6% do total do crescimento mundial até 2028, contra 12,9% da Índia e 11,3% dos Estados Unidos.
Fato é que o gigante asiático ainda se destaca como locomotiva do crescimento mundial: o último dado do Produto Interno Bruto (PIB) — 4,5% de alta no trimestre até março — superou as expectativas de mercado. No entanto, hoje, as aflições com o desenvolvimento do país são muito maiores do que antes.
Além da pífia expansão de 3% no ano passado (frente aos padrões chineses), a meta é de “só” 5% para 2023. Ao olharmos apenas para os dados, a preocupação já é latente: nesse mesmo período, o investimento imobiliário caiu 5,8%, enquanto a produção industrial decepcionou ao crescer 3,9%. Esse cenário levou o desemprego entre os mais jovens (até 24 anos) a um patamar próximo a 20%, um recorde na série histórica.
O contexto revela que o modelo baseado em progresso via investimento em infraestrutura e no setor imobiliário já está ultrapassado. A grande soma investida ao longo do tempo — vale lembrar que os chineses poupam 42% do PIB — faz com que as aplicações novas deem um retorno muito baixo.
Caso esse modelo seja mantido, a tendência será de queda da ascensão potencial da economia. A primeira opção seria transferir esse capital para o setor de tecnologia, hoje mais produtivo e com forte tendência de alta. No entanto, essa transformação é complexa.
Além da repressão do Ocidente para que a China não ultrapasse a fronteira tecnológica (Chip Act), ainda há toda uma estrutura financeira voltada ao investimento pesado, desde produtos até o sistema bancário. Não é fácil mudar tudo isso da noite para o dia.
Outra possibilidade direta é a conversão do investimento em consumo. Embora essa perspectiva aterrorize o governo chinês, que perde muito o controle evolutivo, parece ser a única opção para manter o ritmo de longo prazo. Contudo, ainda que o investimento seja alto e apresente baixo rendimento, ao contrário do consumo, a transição será atribulada, é importante lembrar que quase 80% da poupança chinesa estão ligados ao setor imobiliário, que sofre desinvestimento. Eis, aí, um looping perverso.
Todavia, é a opção mais plausível, desde que feita com parcimônia, mesmo que isso arrisque a economia a continuar afundando em dívida profunda (a do setor privado não financeiro já ultrapassa 100% do PIB).
É bem verdade que todo esse processo, ainda lento, já foi iniciado, pois, em 1990, a relação entre investimento e PIB era de 24%; em 2010, chegou ao pico de 47%.
Atualmente, aproxima-se de 42%. Para completar essa transição, talvez seja necessário chegar a 30%. Todo esse procedimento certamente exigirá parte desse crescimento para que seja totalmente absorvido, deixando o avanço menos constante, pois tudo dependerá das condições de consumo.
Mas uma coisa é certa: dentro de alguns anos, o país será obrigado a fazer grandes ajustes, e isso comprometerá o seu progresso. Aquela China a dois dígitos é coisa do passado.