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NA SEMANA EM QUE SE COMEMORA O DIA DO TRABALHADOR, COMISSÃO DEBATE CONDIÇÕES DE TRABALHO E QUALIDADE DE VIDA NA SOCIEDADE ATUAL

A Comissão de Filosofia do Direito e Literatura da OABRJ promoveu evento para debater o trabalho e a qualidade de vida na sociedade contemporânea, através do conceito filosófico estudado por Byung-Chul Han, um pensador sul-coreano que pesquisa distúrbios sociais, como a depressão e a síndrome de Burnout.

Coordenadora da comissão, Luciana Marinho abriu o evento dizendo que achou pertinente abordar a temática do trabalho na sociedade neoliberal durante a semana que se comemora o Dia do Trabalhador.

 

“Suponho que esse trabalhador neoliberal se enquadre, de uma certa forma, naquele típico 'workaholic', que está disposto a se sacrificar pelo trabalho, firme no projeto de otimizar seu desempenho. Invariavelmente sua meta é produzir mais em menos tempo. Então não há tempo para pensar, tempo livre”, disse Luciana Marinho.



O palestrante, doutor em Filosofia pela PUC-Rio e professor adjunto de Filosofia na UFRRJ, Leandro Chevitarese, apresentou o pensamento de Byung-Chul Han junto com trechos traduzidos de suas obras. Uma das citações trata da sociedade do cansaço, uma população doente com o excesso de positividade e cobrança que se impõe.

“A sociedade disciplinar de Foucault, feita de hospitais, asilos, presídios, quartéis e fábricas não é igual a de hoje. Em seu lugar, entrou uma outra sociedade, a saber, formada por academias de fitness, prédios de escritórios, bancos, aeroportos, shopping centers, laboratórios de genética. A sociedade do século XXI não é mais a sociedade disciplinar, mas a do desempenho” reflete o trecho lido da obra.

Leandro Chevitarese continua a reflexão falando das novas estruturas de poder, implícitas ao capitalismo contemporâneo, que tratam do sujeito que é livre para desempenhar suas funções, um empreendedor de si mesmo. No entanto, há um contraponto de que se ele explora a si mesmo, livre ele não é.

Mais tarde, o palestrante tratou de como a hipervigilância gera esgotamento neuronal do sujeito na sociedade do desempenho. Leandro Chevitarese atrela esse ponto a atenção do ser, que estaria sendo prejudicada e, por sua vez, atrapalhando a produtividade e a manutenção do discurso democrático.
 

“Democracia pressupõe debate, diálogo, e a condição para isso é a escuta. A gente tem um monte de gente falando e parece que ninguém está ouvindo. O grande problema da viabilidade da democracia é, sem dúvida, não meramente a liberdade de expressão, mas a possibilidade de acolhimento da escuta e do debate democrático”, alertou Chevitarese.



Depois da exposição do tema, a mesa abriu o debate para participação da plateia e dos espectadores online. Empresários de si mesmos, o estímulo dos digitais influencers à sociedade do cansaço, conexões interpessoais e o discernimento entre saber o que é urgente e importante na vida profissional foram alguns dos tópicos levantados.