MÚSICA E DEBATES MARCAM A POSSE DO SUBCOMITÊ DE EQUIDADE RACIAL DO TRT-1
Cultura musical negra, homenagens, roda de conversa e poesia. Foi com essa roupagem multidisciplinar que o evento de posse do Subcomitê de Equidade Racial do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região (RJ) prosseguiu durante a tarde da última sexta-feira (14/7), no auditório da instituição. A parte inicial do evento fora realizada no Plenário.
O grupo carioca Jongo da Lapa, que há 19 anos trabalha releituras de canções tradicionais das comunidades jongueiras e músicas autorais a partir do “jongo-canção”, tomou conta do tablado do quarto andar do prédio-sede, apresentando a potência dos atabaques, da dança e dos cânticos, contagiando todos os presentes, que cantaram e acompanharam as músicas com muitas palmas. “O Jongo representa luta, dança e resistência cultural, e aqui temos um momento para ser celebrado e comemorado”, disse Marcus Bárbaro, um dos integrantes do grupo.
A solenidade prosseguiu com um momento muito tocante, que foi a entrega da placa de aço à família da servidora Márcia Cristina Santos de Sant’anna – mulher negra e comprometida com estudos e práticas antirracistas, falecida em fevereiro de 2021 e já homenageada no Ato nº 165/2022, que instituiu a Política de Equidade Racial no âmbito do TRT-1.
Apresentação do Jongo da Lapa e homenagem à servidora Márcia Sant’anna
Antes da entrega, a servidora Jane de Oliveira Silva Costa, que foi grande amiga de Márcia, leu emocionada um texto escrito por diversas servidoras. “Márcia se tornou gigante, propiciando mudanças mais que urgentes, que ela, incisivamente, nos colocava ao desconforto necessário do pensar. Mais uma mulher negra que nos deixa cedo demais”, citava um trecho. Veronice Sant’anna, mãe da servidora, agradeceu com lágrimas nos olhos o merecido tributo. “Eu, Veronice, mãe de Márcia, estou muito grata por tudo que vocês fizeram por minha filha, tanto dentro do tribunal como fora. Sei que minha filha merecia, pois ela era muito boa, muito amiga e preocupada com todos.”
Dando ainda mais profundidade à ocasião, também foi realizada uma roda de conversas com a participação de mulheres integrantes do subcomitê: Bárbara de Moraes Ribeiro Soares Ferrito (mediadora), juíza do Trabalho e vice-coordenadora; Adriana Pinheiro Freitas, juíza do trabalho; Rosana Ferreira de Mattos Ribeiro Baptista, servidora; Rhanne Moura da Silva Nogueira, estagiária; e Sílvia Cristina Marcolino, colaboradora terceirizada.
Um dos temas abordados foi, na verdade, uma pergunta dirigida às participantes: o que mudaria na sua vida se o racismo acabasse hoje? “Falar de não haver racismo é falar de construir a minha própria dor, porque os corpos negros, como eu vejo desde criança, não têm escolha: a nossa cor precede qualquer característica da gente”, respondeu a juíza do Trabalho Adriana Pinheiro Freitas. “Se o racismo terminasse hoje, eu ressignificaria o meu conceito de liberdade: porque eu não teria que passar o desconforto de toda vez que entrar no mercado me lembrar de pegar uma nota fiscal, porque posso ser parada da porta”, completou a colaboradora Sílvia Cristina Marcolino.
Finalizando a solenidade, a servidora, poetisa e membro do subcomitê Maria Eduarda Founier declamou um poema de sua autoria. “Quem é você, que vai pagar pela amarga mordaça, pelos açoites nas praças, pela desestruturação de toda uma raça? Quem ignora a dor, faz ela de entretenimento, e um dia vai acabar sofrendo na pele a catarse de todo esse ressentimento”, afirmou ela, em uma das partes de sua poesia, que recebeu uma salva de palmas.
Confira, na galeria de imagens do portal deste TRT-1, as fotos de toda a solenidade de posse.