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EVENTO "NOVEMBRO NEGRO" DISCUTE INCLUSÃO E COMBATE AO RACISMO

Encontro reuniu palestrantes no Auditório da Casa de Prerrogativas Celso Fontenelle

Felipe Benjamin

Organizado pela Comissão de Prerrogativas da OABRJ na manhã de terça-feira, dia 21, o evento "Novembro Negro - Reflexos antidiscriminatórios na sociedade e no Direito brasileiro" levou um debate sobre os rumos do combate ao racismo no país e o cenário da atuação da advocacia negra ao Auditório da Casa de Prerrogativas Celso Fontenelle, no Centro do Rio.
 

"Como dirigente da Ordem, me vejo como um canal que de alguma forma dá vazão às reivindicações que estão reprimidas na sociedade e que podem ser vocalizadas pela advocacia", afirmou o tesoureiro da Seccional e presidente da Comissão de Prerrogativas, Marcello Oliveira.


"Sabemos que essa é uma luta permanente, mas se existe um ambiente no qual, aos poucos, esses debates têm sido inseridos é o da advocacia. Já temos a paridade de gênero, e isso é um começo, mas infelizmente ainda não alcançamos a redução dessa desigualdade representativa quando falamos de advogados e advogadas pretos e pretas. Por isso é importante trabalhar nas interseções e na construção de redes, fortalecendo a luta coletiva na busca dos nossos objetivos".

Primeira mulher negra a integrar os quadros da Diretoria da Seccional, Mônica Alexandre falou sobre programas de combate à desigualdade racial, e ao final de seu discurso, recebeu, e aceitou, o convite para atuar como mentora da subcomissão.

"Estou muito sensibilizada pelo pacote de medidas anunciado pela ministra Anielle Franco e podemos avançar muito na tarefa de trazer visibilidade às questões raciais e ajudar profundamente a advocacia que trabalha na ponta", afirmou Mônica.
 

"Precisamos de ideias novas e estamos trabalhando no censo da advocacia que foi ampliado, e ajudará a Ordem a entender o que fazer para o advogado que está atuando diariamente. Fico feliz de ver esse grupo de mulheres pretas com tanta disposição para mudar a trajetória, agregando forças e trabalhando juntas. Contem comigo para que sejamos elementos transformadores e deixemos um legado".


O evento teve apresentação da coordenadora-adjunta da subcomissão antirracismo da Comissão de Prerrogativas, Mariana Evangelista, e do coordenador de Diversidade da comissão, Nelio Georgini da Silva, e teve como palestrantes a delegada de prerrogativas Iasmin da Silva de Oliveira; a representante do laboratório de pesquisa e construção de narrativas sobre favelas e periferias LabJaca Juliana Coutinho, e da autora e psicóloga Uyara Soares.

"Desde pequena sempre sonhei em ser advogada e, como eu, centenas de milhares de outros jovens pretos cresceram com a ideia de que o diploma era uma chave para abrir a porta que mudaria nossas vidas", afirmou Iasmin.

"Mas infelizmente, não saímos preparados para lidar com as barreiras que se apresentam depois que essa porta é aberta. E a cada barreira ultrapassada surge uma nova. Parece que nunca estamos chegando perto de atingir aquele ponto que insiste em nos dizer que 'basta querer para alcançar'".

As questões ambientais marcaram a fala de Juliana Coutinho, oriunda de Queimados, que falou sobre a violência territorial contra as populações periféricas. "Venho da Baixada Fluminense, que é conhecida por ser uma região muito violenta", afirmou a pesquisadora.

"Mas essa violência que atinge os municípios da Baixada não é somente a violência das armas de fogo. Comecei minha luta socioambiental na luta pelo direito à água e esse é um território no qual habitantes das favelas e periferias são usados como ratos de laboratório. A favela sobrevive se apoiando na tecnologia da gambiarra, mas é uma potência, que sofre com a falta de política pública. A Bacia Hidrográfica do Guandu fica na Baixada Fluminense. Lá falta água, mas na Zona Sul da capital não. E mesmo quando não falta água, a água que chega às residências da Baixada é de pior qualidade. Foi isso que nos levou a pautar a contrapartida social para com os municípios da Bacia Hidrográfica, já que é o nosso território que está sendo explorado".

Na última palestra do evento, a psicóloga Uyara Soares falou sobre as questões de saúde mental que atingem a população preta.

"Lá nos tempos de nossas bisavós, alguém disse que pessoas como nós não teriam direitos a isso ou aquilo, e esse sentimento foi transmitido através das gerações", afirmou Uyara.

"Somos levados a acreditar nisso, e acreditar que alguns lugares não são feitos para ser ocupados por nós. A transformação está em entender o que está nos paralisando e começar a questionar isso. Eu fui estimulada a ir à escola, mas cresci ouvindo os relatos de minha mãe de como a escola era um ambiente hostil. E sim, a escola é um dos ambientes mais cruéis e hostis para as crianças negras. Quando começo a trabalhar com saúde mental, encontro, especialmente no Sistema Único de Saúde e nos casos de longa internação, a população preta. E ela está lá muitas vezes sem qualquer explicação sobre as razões de tais internações. O compromisso que temos que ter é de entendermos quem somos para sermos felizes. Por nós e pelos que vieram antes de nós".