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DELEGADO QUE TENTOU FORJAR ACUSAÇÕES CONTRA PAES É DENUNCIADO POR RACISMO

A Justiça do Rio de Janeiro aceitou denúncia contra o delegado da Polícia Civil Maurício Demétrio Afonso Alves pelos crimes de discriminação e injúria racial.

Reprodução

Delegado Maurício Demétrio forjou acusações contra o prefeito Eduardo Paes

Na denúncia, o Ministério Público estadual apontou três episódios em que Maurício Demétrio exteriorizou seu desprezo por pessoas de cor preta ou fez ofensas racistas. Todas as falas ocorreram por meio do aplicativo WhatsApp.

 

Em um dos casos, em outubro de 2018, Demétrio chamou uma delegada aposentada de “macaca” e “criola”. Em 2020, ele usou em uma conversa a expressão “tinha que ser preto” ao se referir ao então ministro da Educação, Carlos Alberto Decotelli da Silva.

Outro episódio ocorreu em março de 2018, quando o delegado ironizou a morte da vereadora Marielle Franco, “que, no contexto do que restou demonstrado com a prova dos autos, assim o fez por preconceito racial, certo que a falecida vereadora era mulher de cor preta”, sustenta o MP-RJ na denúncia.

Além da condenação pelos dois crimes, o MP-RJ requer que o delegado seja condenado a pagar R$ 100 mil pelos danos morais causados à delegada, bem como R$ 100 mil a título de dano moral coletivo.

Condenação por corrupção

Maurício Demétrio foi preso em junho de 2021 com a acusação de chefiar esquema de cobrança de propina de lojistas da Rua Teresa, em Petrópolis, na Região Serrana do Rio.

Em janeiro deste ano, o juiz Bruno Monteiro Rulière, da 1ª Vara Especializada em Organização Criminosa do Rio, condenou Demétrio a mais de nove anos de prisão pelos crimes de obstrução de Justiça, organização criminosa, lavagem de dinheiro, fraude em sistema e laudo falso.

O julgador afirmou na sentença que os “crimes são gravíssimos e foram praticados justamente valendo-se da função pública que exerce e da estrutura que a Polícia Civil lhe confere”. O juiz determinou que o delegado seja removido do quadro da corporação — Demétrio está afastado enquanto recorre da condenação.

Falsidades contra Paes

Segundo outra denúncia do Ministério Público, Maurício Demétrio tentou duas vezes forjar acusações contra o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD). Em um das ocasiões, durante as eleições de 2020, ele fraudou uma “entrega de dinheiro” a Paes, que era candidato à prefeitura, com o objetivo de prendê-lo em flagrante. Na outra, a ação foi discutida com o delegado Allan Turnowski, ex-secretário de Polícia Civil do Rio de Janeiro.

 

Mensagens obtidas pelo MP-RJ apontam que, em novembro de 2020, quando Paes disputava o segundo turno das eleições contra Marcelo Crivella (Republicanos), Demétrio tentou armar um flagrante de entrega de dinheiro ao candidato usando um aliado para acionar a Polícia Federal.

Para convencer delegados federais a montar uma operação contra Paes, um preposto de Demétrio, identificado na denúncia como o advogado Thalles Wildhagen Camargo, encaminhou uma foto do dinheiro à PF. A fotografia foi feita na casa de Demétrio, de acordo com as investigações.

Victor Cesar Carvalho dos Santos, um dos delegados da PF acionados à época, disse ao MP-RJ que a polícia cogitou fazer uma operação contra Eduardo Paes, mas o caso não avançou porque as provas eram insuficientes. Posteriormente, ao descobrir que Demétrio estava na origem da denúncia, desistiu-se de vez de apurar o caso, devido à falta de credibilidade do delegado estadual.

Demétrio chegou a mobilizar policiais civis para vigiar Eduardo Paes e sua comitiva, com o objetivo de obter imagens do veículo utilizado por ele, diz o MP-RJ. O delegado, na ocasião, enviou uma mensagem para Camargo pelo WhatsApp com uma foto de um saco contendo as cédulas que planejava apreender com o então candidato a prefeito. O plano não foi adiante e Paes foi eleito.

 

Em março de 2021, o delegado articulou nova investida contra o prefeito, que, à época, estava cotado para disputar o governo do Rio contra o governador Cláudio Castro. Conforme a denúncia do MP-RJ, Demétrio sugeriu, em conversa com Turnowski, então secretário de Polícia Civil, atingir Paes com um inquérito que já estava em andamento. Turnowski respondeu que eles deveriam esperar a investigação avançar, mas que iria “olhar”. Demétrio, então, sugeriu o uso da Delegacia do Consumidor, unidade especializada para a qual fora designado no mesmo período.

Vazamento de investigação

O MP-RJ também aponta que Allan Turnowski e Maurício Demétrio tentaram beneficiar amigos investigados por desvios de verbas em contratos do município do Rio.

Em 2018, dirigentes, ex-dirigentes e funcionários da Fundação Bio-Rio e do Instituto de Atenção Básica e Avançada à Saúde (Iabas) foram alvos de mandados de busca e apreensão.

De acordo com o MP-RJ, mensagens trocadas entre Turnowski e Demétrio indicam que a ação havia sido vazada para os amigos deles, que já estavam preparados para receber os policiais.

 

Segundo o MP-RJ, Demétrio pediu a Turnowski que a imprensa não pudesse acompanhar o cumprimento dos mandados no Novo Leblon, condomínio localizado na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio. Isso porque os empresários já estariam esperando os agentes com advogados, o que evidenciaria o vazamento. Com informações da assessoria de imprensa do MP-RJ.