SUPERQUARTA: SURPRESAS APENAS NOS ESTADOS UNIDOS
Na última superquarta de decisões de política monetária, a maior surpresa veio dos Estados Unidos. O Federal Reserve (FED), enfim, reduziu a taxa de juros em 0,5 ponto porcentual (p.p.), apesar de a economia de lá ainda estar claramente aquecida. Por aqui, o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou a Selic em 0,25 p.p., focando no excesso de demanda, nas expectativas inflacionárias e na incerteza fiscal, a despeito dos dados recentes razoáveis de inflação.
A votação americana foi praticamente unânime: 11 dos 12 integrantes do Comitê Federal do Mercado Aberto (FOMC) votaram pela redução de 0,5 p.p., enquanto apenas um votou por 0,25 p.p. O principal argumento foi o progresso no controle da inflação e no equilíbrio dos riscos. O surpreendente é que a economia norte-americana continua forte, ainda que com um ritmo de crescimento ligeiramente mais lento. Em agosto, foram criados 142 mil empregos, somando mais de 4 milhões de postos nos últimos três anos, com a taxa de desemprego se mantendo em 4,2%.
A renda real também segue em alta, com evidente escassez de mão de obra, especialmente no setor de Serviços. E ainda que o Índice de Preços ao Consumidor do país (CPI) esteja em 2,5%, o núcleo da inflação, que exclui itens voláteis como alimentos e energia, ainda se mantém em 3,2%, bem acima da meta de 2%. O FED, no entanto, sinalizou que não há uma direção definida para as próximas reuniões, adotando uma abordagem data driven — ou seja, reagindo aos dados mais recentes. Essa falta de clareza pode prejudicar as expectativas empresariais e dificultar o planejamento de longo prazo.
No Brasil, o Copom optou por um aumento moderado da taxa de juros, embora a inflação tenha sido mais baixa em agosto, com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado pelo IBGE, caindo 0,02% e o segmento de alimentação e bebidas registrando queda de 0,44%.
O Banco Central (Bacen) considerou o cenário de grande demanda, refletido na queda da taxa de desemprego para 6,8% (o menor nível desde 2012) e no aumento da massa salarial. Todos esses fatores contribuíram para o crescimento de 1,4% do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre, superando as expectativas do mercado.
Os Serviços, no País, que subiram 0,24% em agosto, após alta de 0,75% no mês anterior, mostraram volatilidade, dificultando uma análise mais precisa do controle dos custos. As projeções do mercado apontam para uma Selic a 11,25%, no fim do ano, e a 10,25%, em 2025. Havia consenso de que, para a inflação atingir a meta de 3%, seria necessário subir os juros agora, dado o cenário de excesso de demanda. Além disso, a incerteza sobre a política fiscal expansionista adicionou um novo elemento de preocupação, conforme destacado pelo Copom.
Diferentemente do FED, o Bacen foi claro na comunicação, garantindo o compromisso de ajustar o consumo e as expectativas inflacionárias para os próximos anos, até que a meta seja alcançada. Essa diferença entre as políticas de ambos pode favorecer o Brasil no futuro.
A elevação dos juros brasileiros em relação aos norte-americanos têm o potencial de fortalecer o real, reduzindo a pressão cambial sobre a inflação e possibilitando uma Selic mais baixa no futuro. Por outro lado, essa valorização da moeda nacional pode dificultar as exportações e baratear as importações, tornando os produtos nacionais menos competitivos.
Os próximos dados, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, serão importantes para definir a extensão dos ciclos de alta de juros nas duas nações, com expectativa que esses movimentos sejam curtos, mantendo as taxas próximas dos níveis atuais.