GERAÇÃO DE VAGAS PELAS MICRO E PEQUENAS RECUOU NO COMEÇO DO ANO
Na separação por setores, o comércio foi o mais afetado entre janeiro e abril, disse Guilherme Afif Domingos, presidente do Sebrae. Foram fechados 119,4 mil postos de trabalho no primeiro quadrimestre. O cenário é diferente daquele visto em 2015, quando a indústria de transformação liderava as perdas.
Entretanto, a situação das MPEs melhorou em abril. Segundo o Sebrae, o déficit de vagas do mês (-10.511) foi inferior àquele registrado em março (-44.077) deste ano.
"Acreditamos que essa melhora pode estar atrelada à evolução da expectativa do empresário em relação aos rumos do País e da economia. Ou seja, os empresários podem ter optado por "segurar" seus funcionários, demitindo menos, por estarem acreditando em um futuro melhor, com retomada do crescimento econômico", afirmou Afif Domingos.
A divulgação do Sebrae Nacional mostrou fechamento de vagas, superior à abertura de postos, em metade dos setores analisados no mês de abril último. Foram registrados saldos negativos
para as MPEs dos ramos de comércio (-20.924), indústria de transformação (-9.777) e construção (-71). Já serviços (15.344), agropecuária (+4.622) e extrativa mineral (92) tiveram superávit.
Nas empresas de médio e grande porte (MGE), o corte de vagas foi ainda maior. No primeiro quadrimestre de 2016, o saldo de postos de trabalho ficou negativo (-335.676) e superou o déficit atingido em igual período de 2015 (-222.010).
No mês de abril, por outro lado, o resultado foi melhor. A conta negativa registrada neste ano (-54.588) foi inferior à contabilizada em 2015 (-96.665).
O professor de administração do Instituto Mauá de Tecnologia, Francisco Olivieri, explicou o motivo de efeitos diferentes da crise para MPEs e MGEs. Segundo ele, as empresas de maior porte começaram a cortar vagas mais cedo, "de forma preventiva, para se ajustar à crise que começava". Já as pequenas, que tem "menos gordura para queimar", foram mais afetadas quando a recessão ganhou força.
"As empresas de menor porte são as últimas a serem afetadas e as últimas a se recuperar. Elas têm menos estoque para se proteger e demoram mais para se reerguer depois desses períodos", afirmou Olivieri.
De acordo com o especialista, a situação do mercado de trabalho pode melhorar com o avanço das vendas para o exterior. "Algumas companhias já contratam funcionários temporários para produzir, pensando na exportação".
Já Afif Domingos destacou a necessidade de três ações para a retomada do emprego no Brasil: desburocratização, redução de tributos e maior oferta de crédito para MPEs.
Queda no varejo
O impacto da crise sobre o emprego também foi mostrado por um levantamento da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP).
De acordo com os dados divulgados ontem, a quantidade de trabalhadores no varejo, na região metropolitana de São Paulo, voltou ao patamar de 2012. Com os cortes de vagas deste ano, o setor passou a empregar 996.652 trabalhadores formais em abril.
"A deterioração do mercado de trabalho é rápida e muito profunda. Estão sendo muito afetadas as atividades que eram base de uma economia pautada no consumo, como serviço, varejo e atacado", disse Jaime Vasconcellos, assessor econômico da FecomercioSP.
O entrevistado afirmou que o fundo do poço "ainda não foi alcançado". Para ele, o fechamento de vagas deve continuar neste ano e superar os números registrados em 2015. "Como as vendas estão muito fracas, esse movimento acaba ganhando força em todo o País", apontou.
Segundo a FecomercioSP, foram fechados "quase 29 mil empregos" com carteira assinada na região metropolitana de São Paulo nos quatro primeiros meses deste ano.
Para que o mercado de trabalho se recupere, defendeu Vasconcellos, é necessária uma melhora da confiança na economia do País. "Se a inflação diminuir, forem feitos ajustes nas contas do governo e os juros caírem, o consumo e o investimento devem melhorar e o emprego também".