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PLANO DE TRUMP DE REPATRIAÇÃO DEVE TIRAR INVESTIMENTOS DO BRASIL

A intenção do presidente é que empresas dos EUA que possuem operações em outros países sejam estimuladas a enviar recursos de suas filiais para a matriz

O estilo protecionista do novo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deve resultar em um recuo dos investimentos de empresas norte-americanas no Brasil, avalia o presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), Luis Afonso Lima.

É que uma das propostas apresentadas por Trump durante a campanha consiste em reduzir a tarifa cobrada sobre a repatriação de recursos no exterior, de 35% para 10%.

A intenção do presidente é que empresas dos EUA que possuem operações em outros países sejam estimuladas a enviar recursos de suas filiais para a matriz. Tais recursos, que poderiam ser reinvestidos nos países onde estão as filiais, voltariam para os EUA.

"Trata-se de uma oportunidade para as empresas, não é uma questão de mercado", afirmou Lima.

Ele lembra que, em 2005, quando o então presidente George W. Bush adotou uma medida semelhante, reduzido a tarifa de 35% para 5,25%, o investimento direto dos EUA nos resto do mundo caiu 95%, de US$ 295 bilhões para US$ 15 bilhões.

"Com o Trump, esses recursos seriam repatriados para as matrizes ao longo de 2017 e teria impacto no Brasil a partir de 2018", disse.

É difícil estimar o tamanho do impacto no Brasil, mas Lima ressalta que seria relevante.

"O Brasil não é uma parte importante dos investimentos norte-americanos, mas os investimentos norte-americanos são a parte mais importante de todos os investimentos que o Brasil recebe do mundo", destacou o economista.

Segundo estudo feito pela Sobeet no fim do ano passado, 21% dos estoques de investimentos recebidos pelo Brasil em 2015 vieram dos EUA.

Quanto ao câmbio, Lima acredita que, embora o real tenha sido uma das moedas que mais se valorizou em relação ao dólar desde meados do ano passado, a tendência para 2017 é de depreciação.

"Talvez o real esteja apreciado em razão da diferença de taxas de juros (no Brasil e nos EUA), mas os fundamentos fiscais (brasileiros) ainda são frágeis e a moeda norte-americana (sob o governo Trump) vai se fortalecer perante todas as moedas", disse.

O presidente da Sobeet afirmou ainda que, após a eleição de Trump nos EUA e a saída do Reino Unido da União Europeia, o mundo deve ficar atendo a outras eleições importantes em 2017, como as que vão ocorrer na Alemanha, na França e na Holanda.

PLANO DE EMPREGOS

Para os executivos reunidos na Casa Branca nesta semana para consultar o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre seus planos para mudar o comércio e o setor industrial nos EUA, a audiência com o novo presidente foi a parte fácil.

A parte difícil será voltar em apenas 30 dias com uma série de recomendações políticas para o governo com as quais todos possam concordar.

Trump se reuniu com executivos de grandes companhias do setor industrial, como a Dow Chemical e a Lockheed Martin, para discutir planos de impor taxas na fronteira sobre companhias que vendem do exterior para o mercado americano.

Também se encontrou nesta terça-feira com representantes do setor de automóveis, onde manteve o foco na criação de vagas e no corte de regulações sobre empresas. Dos executivos, Trump quer sugestões para estimular o crescimento de empregos domésticos.

A iniciativa, porém, pode revelar a tensão entre as promessas da política econômica de Trump: cortar impostos para empresas e a classe média e ainda reduzir as regulações do governo em pelo menos 75%, enquanto toma o lado dos trabalhadores em disputas com o comando das companhias.

O presidente ameaça impor um imposto de 35% contra companhias que levem a produção para outros países e então importem seu produtos de volta para os EUA. Não está ainda claro, porém, como isso pode afetar empresas americanas que já têm capacidade de produção significativa fora dos EUA.

As tarifas mais duras que poderiam ajudar empresas como a Whirlpool poderiam também gerar revezes para as empresas que já dependem de uma cadeia de produção fora dos EUA. Por ora, as empresas tentam manter um delicado equilíbrio entre satisfazer o presidente e os acionistas desejosos por custos menores com trabalho.