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INSTABILIDADE POLÍTICA PODE AFETAR BOM MOMENTO DAS TROCAS INTERNACIONAIS

Taxa de câmbio com trajetória incerta, projeções piores para inflação, taxa de juros e atividade econômica colocam em risco a balança comercial de 2017, que teve recorde nos primeiros meses

A crise política prejudica também o comércio exterior, setor econômico do País que registrou melhores resultados nos primeiros meses deste ano. É o que afirmam especialistas consultados pelo DCI.

O primeiro entrave para as trocas com estrangeiros é a forte instabilidade do câmbio. A desvalorização do real, em tese, é favorável para as exportações, mas variações muito intensas da moeda acabam afetando as vendas brasileiras para estrangeiros.

"Os contratos desse setor são decisões de longo prazo. Como não se sabe para onde vai o câmbio, quem trabalha em comércio exterior acaba tendo um custo adicional com operações defensivas, como a compra de swaps", afirma Antônio Carlos Alves dos Santos, professor de economia da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP).

Para as importações, a perda de valor do real é somada à instabilidade no País. "Os compradores brasileiros ficaram com menos recursos para fazer aquisições no exterior. Além disso, o aumento do câmbio pode aquecer a inflação, o que causa ainda mais insegurança", afirma Carlos Gustavo Poggio, professor de relações internacionais da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP).

Entre janeiro e abril deste ano, as exportações cresceram 21,8%, para US$ 68,140 bilhões, na comparação com igual período do ano passado. Já as importações avançaram 9,5%, para US$ 46,769 bilhões. Com isso, a balança comercial teve superávit de US$ 21,370 bilhões, o mais elevado desde 1989, quando teve início a série histórica do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC).

Sobre as tendências para o câmbio nos próximos meses, os entrevistados divergem. Ainda que o cenário sugira uma desvalorização do real, as intervenções do Banco Central (BC) podem controlar a divisa, ao menos no curto prazo.

"O volume de reservas [internacionais] brasileiro é muito grande e o mercado não vai entrar em uma queda de braço com o BC", diz Santos. Por esse motivo, continua ele, a taxa de câmbio não deve voltar aos níveis vistos em 2016, quando ficou mais próxima dos R$ 4.

Após o início da nova crise política, o presidente da autoridade monetária, Ilan Goldfajn, afirmou que vai usar os instrumentos necessários para manter o bom funcionamento do mercado no Brasil. Na última sexta-feira, o BC injetou US$ 2 bilhões para conter a desvalorização do real.

Piora das projeções

As estimativas sobre o futuro da atividade econômica, da Selic e das reformas do governo federal pioraram bastante nos últimos dias, o que também afeta as tendências para as vendas internacionais.

"A expectativa para o PIB [Produto Interno Bruto] mudou completamente. Não há motivos, hoje, para um empresário ampliar sua capacidade instalada e comprar máquinas no exterior. Essa segurança só deve voltar depois de eleições diretas para a presidência do País", sinaliza Santos.

Outro fator citado pelos entrevistados é a mudança na condução da política monetária. No cenário atual, a aposta em uma intensificação nos cortes da Selic perdeu força. Com isso, alguns analistas já apostam que o Comitê de Política Monetária (Copom) decidirá por um corte inferior a um ponto percentual em sua próxima reunião, marcada para o último dia deste mês.

A piora das expectativas quanto ao futuro das reformas trabalhista e da Previdência complica ainda mais o quadro. "São mudanças que eram esperadas pelo mercado e pelos investidores. Sem elas, o apetite para negociar com o Brasil diminui", diz Poggio.

Por outro lado, os especialistas indicam que a manutenção de bons preços para as commodities no mercado internacional deve impedir um recuo mais substancial das exportações nos próximos meses.