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REMESSA DE LUCROS E DIVIDENDOS SOBE COM RETOMADA DE EMPRESAS NO PAÍS

São Paulo - A remessa de lucros e dividendos de empresas que operam no Brasil para suas matrizes instaladas no exterior somou US$ 14,247 bilhões entre janeiro e setembro de 2017, um aumento de 16,2% na comparação com igual período do ano passado.

De acordo com dados apresentados ontem pelo Banco Central (BC), a saída líquida desses recursos somou US$ 1,257 bilhão em setembro, alta de 39,5% em relação ao nono mês de 2016.

Para esse aumento, foi fundamental a melhora do desempenho das empresas brasileiras, afirmam especialistas consultados pelo DCI. "As companhias apresentam balanços mais fortes que os de 2016, inclusive porque os números do ano passado estabeleceram uma base de comparação bastante fraca", diz Helcio Takeda, sócio da Pezco Economics.

Após a evolução dos resultados vista no primeiro semestre deste ano, as principais companhias listadas em bolsa devem seguir com performance positiva no terceiro trimestre, segundo projeção do BTG Pactual. A estimativa aponta que 60 de 80 grandes empresas terão receita líquida superior à vista entre julho e setembro do ano passado.

Na opinião de Takeda, a retomada da atividade econômica no País não é o único fator por trás do desempenho das empresas neste ano. "Algumas companhias apresentaram balanços melhores porque promoveram ajustes nos anos de crise, com a realização de cortes de gastos e ganho de eficiência", afirma.

O entrevistado diz também que o envio de recursos para o exterior deve ganhar força em 2018. "Aí sim, a melhora da economia vai fazer efeito". Entretanto, ele afirma que a recuperação dessas remessas não será tão rápida assim.

"Vai demorar um pouco para voltarmos ao patamar do começo dessa década, até porque parte do lucro que for obtido nos próximos anos deverá ser reinvestido no Brasil."

As projeções do BC indicam que as remessas de lucros e dividendos vão chegar a US$ 23 bilhões neste ano, acima dos US$ 19,433 bilhões vistos durante os 12 meses de 2016. Já para 2018, a autoridade monetária espera uma saída líquida de US$ 25,5 bilhões.

As quantias estimadas ainda ficam abaixo dos dados registrados para as remessas antes da recessão. Em 2011, por exemplo, US$ 38,166 bilhões foram enviados ao exterior como lucros e dividendos.

Entre janeiro e setembro de 2017, foram marcados aumentos nas remessas dos três setores analisados - agricultura, indústria e serviços - e os Estados Unidos foram o principal destino dos recursos.

Investimento estrangeiro

O investimento direto no País (IDP) também aumenta em 2017. Com uma alta de 11,2% na comparação com o ano passado, as entradas chegaram a US$ 51,758 bilhões entre janeiro e setembro deste ano.

Professor de economia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Antônio Carlos Alves dos Santos afirma que há uma melhora da percepção sobre o Brasil no exterior. "Os investidores estrangeiros pensam no médio e longo prazo. Com a aprovação de reformas e o impulso do consumo, o cenário [para os aportes] melhora". Segundo ele, o IDP deve continuar crescendo durante o próximo ano.

O entrevistado ainda destaca o cenário favorável no exterior, mas pondera que existem riscos para a economia mundial. "A questão da Catalunha pode iniciar uma crise na Europa e alguma medida do [Donald] Trump pode desestabilizar os Estados Unidos", diz.

A maior parte do IDP foi feita em participação no capital (US$ 40,196 bilhões), enquanto os empréstimos intercompanhia tiveram peso menor (US$ 11,562 bilhões).

A estimativa do BC para 2017 prevê a entrada de US$ 75 bilhões até dezembro. Para o próximo ano, a autoridade monetária projeta US$ 80 bilhões em investimento.

Nos 12 meses encerrados em setembro, o IDP ficou em US$ 83,397 bilhões, o que representa 4,18% do Produto Interno Bruto (PIB) do País.

No mês passado, os aportes somaram US$ 6,339 bilhões, um crescimento de 20,2% no confronto com os dados de setembro de 2016.

Balança no azul

O investimento estrangeiro acumulado entre janeiro e setembro cobriu com facilidade o déficit de US$ 2,706 bilhões somado pela balança de pagamentos no período.

No mês passado, contudo, foi visto superávit de US$ 434 milhões nas transações com o exterior. Mais uma vez, o destaque ficou com a balança comercial, que teve saldo positivo de US$ 4,918 bilhões.

Em setembro de 2016, as contas estrangeiras ficaram no vermelho (-US$ 504 milhões), em linha com o saldo menor das trocas internacionais no mês (US$ 3,607 bilhões).

Segundo o chefe-adjunto do departamento de estatísticas do BC, Renato Baldini, a tendência para os próximos meses é de manutenção do processo de diminuição do déficit em transações correntes.

A projeção do banco público, entretanto, é de que o rombo externo chegue a US$ 16 bilhões em 2017 e suba a US$ 30 bilhões no próximo ano.